A mulher viajante é livre. Mas essa liberdade só acontece depois de muito desprendimento. Principalmente quando o assunto é a opinião dos outros.
Desprender-se da opinião dos outros é um exercício que começa no dia a dia, ao lidar com as situações do cotidiano mesmo… muito antes de se pensar em viajar.
A mulher foi sempre acostumada a escutar muito sobre uma suposta fragilidade e doçura.
Crescemos ouvindo que a mulher deve ser doce. E acabamos logo associando a fragilidade à doçura ou vice versa.
A mulher pode ser doce, o que não necessariamente quer dizer que ela seja frágil.
É claro que esta ideia de fragilidade é um processo inconsciente.
Por mais que nos consideremos bem resolvidas, antenadas e modernas, nossas decisões em sociedade ainda são muito pautadas pelo o que os outros vão pensar.
Ao menos para a grande maioria das mulheres ainda é assim, mesmo quando mais velhas. Sem perceber, quando se dão conta, estão levando em consideração os modelos de comportamento “aceitáveis”.
Estar sozinha é mesmo um atestado de solidão?
Só para dar um exemplo do que ainda acontece.
Eu sempre gostei muito de me sentar sozinha para beber e comer em um barzinho. Sempre fiz isso, e nunca tive nenhuma intenção em ir a um bar sozinha para paquerar, por exemplo.
Nada contra obviamente, mas pra mim sempre foi muito difícil associar o passeio noturno ou a “balada” com a possibilidade de dali sair um relacionamento com alguém. Então definitivamente, essa nunca foi minha intenção.
Mas a grande maioria acaba pensando assim quando vê uma mulher sozinha na noite, não é mesmo? Um pensamento dentro da caixa.
Me recordo como algumas pessoas me olhavam e olham até hoje. Principalmente agora, após os 40.
A pena é uma das feições mais divertidas de se ver (hoje me divirto, mas já me irritei muito com isso).
Uma mulher aos 40 sozinha na noite é prato cheio para os estigmas que fofoqueiros ou quem se preocupa muito com a vida do outro adora. “Coitada. A coroa solitária procurando companhia”.
Sério! As pessoas olham com pena, supondo solidão e infelicidade certa, e sem nenhum elemento concreto de fato para deduzir isso.
Outras pessoas simplesmente se apegam aos julgamentos morais simplórios e implacáveis do tipo “que feio uma mulher sentada sozinha em um bar”. É inacreditável que isso ainda aconteça em pleno século XXI. Nossa sociedade ainda tem muita dificuldade em pensar fora da caixa.
O fato é que como desde muito nova tenho uma necessidade de independência à flor da pele e um espírito que chega a adorar a liberdade, acabei sempre batendo de frente com esse tipo de modelo de comportamento.
Chegava a ter a crença de que isso seria mesmo o meu grande desafio na vida. Mudar a cabeça das pessoas que pensam dentro do quadrado, principalmente quando o assunto é a liberdade da mulher.
A mulher viajante é livre e madura
Esse perfil descrito, quando eu era mais jovem, foi um facilitador para que eu conseguisse perder o medo de encarar uma viagem sozinha.
A ideia do desafio, a necessidade de provar para todo mundo que uma mulher pode fazer o que bem entender foi o que me levou à minha primeira viagem solo para a Inglaterra e França, aos 20 anos. Depois disso, não parei mais.
É claro que hoje, acima dos 40 anos de idade e com alguma experiência de vida na bagagem, não faz a menor diferença na minha vida provar nada para ninguém. Essa necessidade ficou lá atrás, no início da fase adulta. E foi muito importante para me tornar quem sou hoje.
Faz parte do processo de aprendizado e amadurecimento. E não tenho nenhuma vergonha em dizer isso. Mas ficou pra trás.
Hoje, qualquer coisa que decida fazer na minha vida dou importância maior à experiência e o que ela pode me agregar. E não há nada mais estimulante e enriquecedor do que a experiência que advém de uma viagem solo.
Insisto dizer à todas as mulheres que me leem. Nunca permita que alguém diga qual é a melhor experiência para você. Você é livre, menina, para fazer a suas escolhas.
Boas viagens
Por Lu Leal
1 comment
Perfeito! Adorei o texto.