Eu viajo Sozinha. Porque meus amigos se afastaram de mim?

Tenho visto muitos relatos de mulheres que, assim como eu, viram alguns de seus amigos se afastarem ou não conseguem conversar sobre suas viagens sozinhas com a própria família.

Ocorre o mesmo comigo (com cada vez mais raras exceções). De tanto observar o visível desinteresse de pessoas das minhas relações nas histórias das minhas viagens sozinha, deixei de falar sobre o assunto com elas. Mas levou muito tempo pra eu perceber e entender esse desinteresse.

Me lembro que há mais de 20 anos atrás, levei para a minha família enorme do sul do Brasil, em uma mala pesadíssima, os álbuns com as fotos de minha primeira viagem sozinha. Foi um mês de intercâmbio para melhorar o inglês no sul da Inglaterra, na cidade de Brighton e depois alguns dias para conhecer Paris. Eu voltei tão cheia de novidades e experiências que queria gritar isso pra todo mundo. Imaginem! Mulher, vinte anos de idade, saindo do Brasil pela primeira vez e sozinha? Caramba! Não é pra todo mundo querer saber como foi?

Não. Não é.

Uma vez, enquanto eu dava uma dica sobre um assunto, ouvi de uma pessoa a seguinte frase: “a experiência é sua, não minha”. Pronto. É o suficiente para se entender de uma vez por todas que nem todo mundo quer ouvir ou tem interesse no que você tem a dizer. Então… fecha o bico, menina!

O desinteresse de parte da família foi uma das coisas mais decepcionantes que já vivenciei. E foi muito difícil de entender o que estava acontecendo. Porque eu achava aquilo o máximo e os outros não?

Só fui entender muito mais tarde, e quando compreendido, foi bem mais fácil aceitar. E para familiares e amigos cada vez mais difícil ouvirem falar sobre minhas experiências.

Será mesmo que a tendência natural é que cada vez mais conversemos com estranhos sobre as experiências que são importantes para nós? Porque não conseguimos falar sobre experiências de viagem com pessoas mais próximas? Será que quando as pessoas que gostamos não se interessam em ouvir certas histórias, podemos dizer que se trata de inveja simplesmente?

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Um estilo de vida que choca mesmo quem não se considera conservador

O que ocorre é que normalmente não dá pra reduzir as impressões do outro sobre você e suas vivências somente à inveja ou coisas do gênero. Ás vezes é muito mais profundo que isso.

No meu caso, por exemplo, e isso é uma experiência bem pessoal mesmo, fui notando com o tempo e pelas conversas de amigos íntimos e família, que era muito mais o estilo de vida que criava um incômodo enorme.

Meu jeito de viver sempre destoou em muito do estilo da maioria das pessoas do meu círculo de relacionamentos. Não que eu seja um ET ou alguém especial, mas somente um estilo de vida diferente das pessoas que te cercam, já é o suficiente para fazer você ser o patinho feio, o peixe fora d’água, o ponto fora da curva, ou A DIFERENTONA (rs).

Eu não quis me casar, ter filhos, em vários momentos da minha vida vivi de bicos, sem trabalho fixo, em muitas ocasiões pagando as contas aos trancos e barrancos e além de tudo… viajando sozinha. Quem é que entende essa maluquice toda? Ôh maluquice deliciosa!

Inveja ou simplesmente estranhamento?

O que quero dizer é que um comportamento que destoa dos modelos tidos como mais estáveis e “normais” é um comportamento que causa às vezes até repulsa. Muita gente não compreende bem como você dá conta de ser “tão desprendida”. Essa interrogação na cabeça das pessoas é muito mais poderosa do que a inveja propriamente dita. É claro que os invejosos estão por toda parte, mas definitivamente, talvez não seja o caso da maioria das pessoas com quem você convive. Há pessoas que não conseguem, não suportam ouvir sobre certas vivências, simplesmente porque não compreendem que elas sejam possíveis. A pergunta que essas pessoas se fazem é “COMO ELA CONSEGUE?”.

Pense um pouco sobre seu estilo de vida. Se pergunte o quanto talvez este seu jeito de viver possa ser chocante para as pessoas das suas relações. Não precisa viver de forma exótica. Um simples modo de encarar a vida que difira um pouco da grande maioria no seu círculo de amizade, familiar e profissional, pode ser o suficiente para causar um estranhamento enorme.

Cada mulher tem uma razão para amar viajar e gostar de fazer isso sozinha. E quando vem a decisão para uma viagem solo, principalmente a primeira vez, há motivos importantes por trás. Sejam eles quais forem, o fato é que ter coragem ou simplesmente vontade de cair no mundo sozinha, mostra muito sobre quem você é ou quer se tornar. E talvez muitas pessoas de suas relações só não estejam preparadas para lidar com esse seu jeito de ser tão você.

Liberdade e Empoderamento

O fato é. Ainda que ninguém note, queira pensar sobre, ou se importe com as renúncias de uma mulher para que ela possa seguir com a vida que bem lhe entender (sim, todo mundo que deseja profundamente a liberdade renuncia muita coisa) uma mulher que se aceita e se sente livre, entende a importância de ser como quiser.

Hoje encontraram um nome para uma coisa que muitas mulheres já vivenciam na prática cotidiana desde sempre: Empoderamento Feminino. O empoderamento (palavra que quando vc escreve ainda aparece com erro no word, rs), não é só um conceito, ou uma teoria de feminista de sofá. Empoderamento é um estilo de vida. Uma forma de pensar , se enxergar no mundo e viver, NA PRÁTICA. Resumindo. Ser dona da própria vida e tomar posse de sua liberdade.

Falar de empoderamento é dar voz para um perfil de mulheres que já são há muito tempo donas de sua própria vida. E aparece em um momento onde outras tantas mulheres estão sentindo fortemente essa necessidade. É um conceito que expressa a liberdade de ser quem se quer ser, seja para si mesma ou na relação com os outros. E ainda há muito pouca gente aberta ou disposta a compreender o peso disso!

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Não perca tempo falando com as paredes

No decorrer do tempo nos relacionamentos, vamos percebendo alguns sinais nas pessoas até que amamos, que demonstram um visível desinteresse nas nossas histórias. Às vezes nosso interlocutor parece até mesmo querer sumir dali. É um processo inconsciente muitas vezes. E não é por mal. Simplesmente não se interessam, não podem, ou não suportam ouvir certas realidades diferentes. Não suportam ouvir que certos estilos de vida que têm lugar somente em seu imaginário, são de fato vividos por muita gente.

Se para você viajante, essa reação causa tristeza e decepção, reflita e reveja o peso que dá a isso em sua vida. Não dividir sua experiência com alguém desinteressado será muito mais saudável para você. Cada pessoa tem suas necessidades e interesses. Não fale com as paredes.

Cada um está nesse planeta trilhando o próprio caminho para se reconhecer no mundo que inventou pra si. Você vai ver que há muita gente nesse mundão para alcançar com sua mensagem.  E que principalmente com a internet, você consegue chegar nestas pessoas. Reserve a beleza e o valor da sua experiência para muitas pessoas que vão querer te ouvir. Talvez algumas só precisarão da sua história para mudar completamente suas vidas. O primeiro passo para inspirar qualquer pessoa, é que ela esteja aberta para isso.

Resistências

Apesar de vivermos em um momento histórico em que as mulheres estão cada vez mais antenadas e preparadas para lutar pelo seu espaço, ainda há muita resistência, inclusive das próprias mulheres. Há mulheres que não conseguem e até não se interessam por nada que as faça sair do seu lugar de “conforto”. E gente, tudo bem pra isso também. Cada um vive como quer e pode. A gente transforma o mundo, antes de qualquer coisa, respeitando a vontade do outro. Então se você perceber que a sua conversa não agrada, procure pessoas para as quais a sua história será um alento, um divertimento, uma inspiração!

Você não precisa se afastar de ninguém que você ame. Converse sobre outros assuntos com essas pessoas que não querem (ou não podem) conhecer suas aventuras como viajante, por exemplo. E deixe para compartilhar as experiências que você valoriza em comunidades onde mentes dispostas a isso estarão te esperando.

Agora, se seus amigos e familiares se afastarem de você porque você viaja sozinha, porque seu estilo de vida e suas escolhas são muito diferentes das deles… paciência. Você não precisa ficar com raiva. Dê àquela pessoa o tempo que ela precisa para entender que você é como é. E ponto. E vá fazer novas amizades e viver plenamente a sua vida.

Eu sou uma aquariana cheia de amigos. Acabei me afastando de alguns deles. Outros se afastaram de mim. A gente vai percebendo que as afinidades vão mudando ao longo do tempo. Ninguém é obrigado a te acompanhar o tempo todo. As afinidades mudam, e às vezes até precisam mudar. Tudo bem pra isso também!

No meu caso, o que não muda, é o desejo constante de liberdade e descobrir o máximo que puder do mundo nessa existência. Essa é a maneira que escolhi viver… Junte-se à caminhada quem quiser e puder se lançar na jornada.

No fundo no fundo, a vida é a maior e mais arriscada viagem.

Por Lu Leal