Comunidade Mulheres que Viajam Sozinhas

Las Vegas. Deserto de Neon.

by Mulher Viajante
Las Vegas. Deserto de Neon

Inglês com a gringa

As luzes de Vegas

Quem tem mais intimidade comigo e conhece Las Vegas, sempre me diz que a minha impressão sobre a cidade é injusta. Afinal, a impressão de uma amante da natureza, do sol e da praia, que tinha acabado de sair do paraíso (Hawaii), não poderia resultar em maior contradição. O Hawaii colore os registros da minha memória com verde de mata nativa (as florestas espalhadas pelas ilhas), azul-esverdeado de águas cristalinas (Kailua, Lanikai que tive o prazer de mergulhar em Oahu), o vermelho de lava vulcânica (avistado de cima do Vulcão Kilauea) e o manto negro costurado com milhares de cristais reluzentes (o céu estrelado no topo do mundo, visto da montanha Mauna Kea). Depois disso tudo, eu acabei reduzindo Vegas a um deserto de Neon. Rsrsrs.
Cassino do Hotel Caesars Palace

Hotel Caesars Palace

Las Vegas. Deserto de Neon

Hotel Paris

Que injustiça! Trata-se somente do que é diferente para o meu estado de espírito naquele momento. Destoa do que eu já tinha visto nos 15 dias anteriores, mas não é menos interessante. Peço desculpas à injustiça que eventualmente possa cometer ao falar da festiva Vegas. É que o espírito de Vegas é o de uma cidade com aquele clima de noite, mesmo de dia. Costumo dizer que o clima de Vegas é um clima de balada eterno. Sobre o “deserto de neon” mencionado acima, posso dizer que com isso já me impressionei no pouso. Cheguei tarde da noite, pra lá das 23 horas, e avistei do avião tudo absolutamente iluminado. Muita luz e movimento para aquela hora da noite. “Como pode, gente”? Me perguntei. Pode. Em Las Vegas pode tudo… Até ficar sem mala.

Onde foi parar a mala?

Sozinha em Las Vegas

Vôo de Kona para Las Vegas

O voo teve início em Kona no Hawaii, e tinha como destino final Las Vegas, com uma escala em Portland. Essa escala resultou exatamente no que eu imaginei enquanto estava correndo pelo aeroporto querendo encontrar o portão de embarque do vôo para Vegas. “Isso não vai dar certo. Se eu estou precisando sair correndo feito louca para acessar a minha conexão, como será com a minha mala? Ela não sabe correr” eu pensava. Já fui comissária de bordo. Sei que bagagem não tem vontade própria… Pobre infeliz de mim, que sem a dita cuja ficaria quase no abandono do esquecimento fashion (ooohhh). Como caminhar por aí sem roupa, sem sapato? E os meus cremes? Rs. Mas eu tinha meu equipamento fotográfico comigo. E no meu caso, antes pelada, mas com uma câmera na mão. No final, nem fui tão radical assim. Apenas dormi mais que a cama. A companhia aérea Alaska Airways havia me oferecido um crédito de $ 200 dólares para comprar o que precisasse emergencialmente para aquela noite sem mala. Só tinha um problema. Para ter direito ao reembolso do valor de $ 200 dólares eu teria que ir com a nota fiscal das compras em um lugar determinado pela empresa, até uma determinada hora da manhã no outro dia. Eu achei uma coisa meio esquisita “dar com uma mão e tirar com a outra”, já que se eu tinha chegado em Las Vegas aquela hora, certamente não estaria antes das 8 da manhã em lugar algum além de na cama, e ainda menos, de roupa nova. Enfim… deixei o crédito de lado, usei o que tinha no hotel e comigo. No final, minha mala só chegaria ao hotel depois do meio dia, e eu só teria mesmo roupa para o passeio da tarde, após uma não muito boa noite de sono. Mas não vou entrar em detalhes sobre o hotel escolhido neste post.

As Luzes e os Cassinos de Las Vegas

Las Vegas

As Luzes de Vegas. Região dos Hoteis

Era uma passagem muito rápida pela cidade, numa escala de retorno após 15 dias no Hawaii. Eu tinha somente dois na cidade. Queria muito mesmo fazer o passeio de helicóptero no Gran Canyon, mas não ia dar tempo, meio dia já tinha ido embora. Precisava ver o máximo que conseguisse de Vegas. Então parti direto para os cassinos. (Na verdade na noite anterior já havia experimentado o cassino do Planet Hollywood, hotel no qual estava hospedada). Ressalto que não estou querendo estimular ninguém a jogar, ok? Estou somente dividindo uma experiência com vocês. Indo para Vegas obviamente reservei um dinheiro para PERDER nos cassinos. Foram 50 dolares que reservei para PERDER. Ou seja. O valor de um “ticket” qualquer, para me divertir com alguma coisa. Poderia ter sido qualquer programa. Foi no cassino.

Cassino do Hotel Planet Holywood

As Luzes e Cassinos de Las Vegas

Cassino Hotel Planet Holywood

A noite no Cassino do Planet Hollywood não foi muito atrativa pra mim. Fiquei achando que mesmo em uma cidade tão “liberal” quanto Vegas, uma mulher sozinha à noite em um cassino era algo não muito bem visto. Não era isso obviamente, mas por conta do assédio neste cassino, acreditei que essa era a realidade de Vegas logo de cara. Foram diversas piadinhas, olhares maliciosos e tentativas de conversa ao pé do ouvido em pouco tempo que estive por lá. Como estava em um lugar público não me preocupei com segurança. Nada iria me acontecer ali e poderia ficar tranquila. E neste ponto preciso ressaltar que tanto nos cassinos quanto na rua, achei a cidade muito tranquila para andar sozinha. Mas minha observação não se refere à segurança e sim à chateação das piadinhas e tentativas de conversa enquanto o que eu queria era paz. No final, tratava-se do mesmo de sempre: bêbados e engraçadinhos, com os quais temos que lidar em qualquer lugar do mundo.
Cassino do Hotel Planet Holywood

Cassino do Hotel Planet Holywood

Produtos para Viagem
Mas bem! Isso foi no Planet Hollywood e na madrugada. Fui em outros cassinos no dia seguinte e a minha impressão mudou um pouco. E uma dica minha pra quem vai se divertir em cassinos sozinha é que sinta primeiro o nível dos frequentadores do local. Passei pelo Belaggio, Mirage, Paris mas fui parar mesmo no Aria. E alí comecei a ver Vegas com um pouco mais de boa vontade. Não me hospedei no hotel, mas a estrutura do local, o cassino, seus restaurantes… tudo tinha um clima bem diferente. O Cassino do Aria era como se atendesse o meu pedido enquanto observava todo aquele exagero dos principais e mais famosos hotéis da cidade: “Menos, Vegas. Menos”!!!

Cassino do Hotel Aria

Hotel Aria

Hotel Aria

Me senti muito mais confortável e menos “na mira” no Cassino do Aria. E depois de algum tempo estava me divertindo à beça com os jogos! Bem, tá certo que me diverti porque ganhei.  Inclusive tô pensando aqui. Engraçado que não fiz vídeo no outro cassino, onde estava perdendo (eu tb faço minha auto análise, rs). Booking.com E por falar em perder ou ganhar. Tem uma palavra que rege as coisas em Vegas. Dinheiro, claro! Enquanto vc está dentro de um cassino, com os créditos que acabou de comprar e de preferência perdendo nas máquinas, você terá bebida gratuita farta e será recebido com sorrisos pelas “cassinetes” (eu inventei esse nome, tá?). Essas meninas querem saber de gorjetas. Experimenta não dar. Para quem não sabe, a força de trabalho nos EUA muitas vezes é compensada somente com as gorjetas. É o que pesa mais para alguns trabalhadores por lá. Então precisamos tentar compreender essa realidade e dar um belo desconto para a antipatia das cassinetes em alguns casos.  Se o costume do brasileiro em não dar gorjeta insistir tomar conta de você, entenda que a paciência com as caras feias vai precisar igualmente caminhar contigo. Teve uma menina que me entregou a bebida e ficou parada ao meu lado me encarando. Me recusei a dar qualquer cent de dólar por me sentir quase que coagida. Claro que depois disso não vi mais a cor dos olhos dela. Simplesmente não apareceu mais por ali.  O que achei ótimo. Algumas pessoas podem extorquir você em Vegas apenas com o olhar.
Interior do Cassino do Hotel Aria

Interior do Cassino do Hotel Aria

Mas a situação mais emblemática pra mim aconteceu depois que eu ganhei a segunda roda da fortuna. Do nada me aparece um funcionário do cassino cheio de gentilezas. Começou a conversar comigo em um tom inquisitivo, mas bem educado. Me falou do prazer que era me receber ali, que gostaria de saber qual era o meu quarto no hotel Aria (ufa, eu não estava hospedada lá), e bla, bla, bla… Até que finalmente veio a pergunta “Porque você está sozinha?”. Depois de tantas vezes que você escuta essa pergunta, começa a ficar meio de saco cheio, mas não sei porque o meu desinteresse na conversa foi substituído por um interesse súbito. Acho que meu instinto adivinhou o que vinha na sequência.

Mulher, Brasileira e sozinha.

Quando eu disse que era uma brasileira que viajava sozinha por opção e estava poucos dias em Las Vegas no retorno dos 15 dias no Hawaii, ele se escandalizou. Ficou me olhando com um ar desconfiado e deixou escapar a pérola “Mas nem eu fui sozinho para o Hawaii”. Foi o suficiente para me vir um monte de coisas à cabeça. A infinidade de pessoas com quem eu converso que não viajam dentro do próprio país, que nem se quer saem de sua própria cidade. Homens ou mulheres, de qualquer idade. Não importa. Na minha família mesmo tem muita gente assim. Como uma simples conversa nos faz pensar em tantas coisas, não é mesmo? De novo, e de novo as mulheres vão sendo desafiadas com os discursos preconceituosos implícitos no papo mais despretensioso. (Até com outras mulheres muitas vezes). Se nem ele, um homem, tinha se aventurado em tão notável feito, como poderia eu viajar sozinha para o Hawaii? E eu fiquei ali, extraindo do âmago toda a paciência que pude encontrar de maneira a poder desprezar a frase limitada e preconceituosa e continuar conversando com ele, tentando explicar que não há mais riscos em se aventurar em uma viagem solo, do que o risco de sermos nós mesmos, em muitos momentos de nossas vidas. Meio sem energia para a conversa que no final ficou extremamente desinteressante quase me desliguei do objetivo principal dele alí, que era obter informações ao meu respeito, e controlar meus gastos e ganhos. Ao menos foi o que me pareceu. Como sei? Pediu meu documento e com os dados anotados me fez um cartão VIP do cassino. Era só eu usar o cartão para inserir os créditos que compraria para os jogos, e também manter ali os créditos que eventualmente ganhasse nas máquinas. Achei aquilo bem esquisito… mas tudo bem. Já tinha me divertido o suficiente por ali. Estava na hora de ir. O fato é que em dois dias em Las Vegas eu tive algumas lições sobre preconceito de gênero que não tinha vivido em outros lugares. Em 15 dias no hawaii, por exemplo, em nenhum momento fui vista como um ET pelo simples fato de ser uma mulher viajando sozinha. Mas é claro! O Hawaii é o paraíso da interação com a natureza, o eden dos espíritos livres. Porque alguém vai se interessar em estereótipos com aquela beleza toda em volta para se ocupar? Las Vegas é um centro urbano regido pelo dinheiro, pelas aparências, com toda a limitação que ambientes assim produzem na cabeça das pessoas.Mas olha eu de novo aqui criticando e talvez não sendo completamente justa com a cidade. É que um outro momento vivido em Vegas me deixaria bem chateada. O tratamento que uma mulher, brasileira e sozinha pode receber em alguns locais (é raro não ser bem tratada, mas acontece) acabou me levando à impressões mais negativas que positivas sobre a cidade de um modo geral. Mas conto com mais detalhes aqui. Leia mais em Mulheres que Viajam Sozinhas e o Preconceito.

Por Lu Leal

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